A minha benção concede a cada dia, pois eu sou filho do Rei.
Perdoe-nos nossas multidões de pecados.
E livra-me do mal.
Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre... e eu sou teu herdeiro.
Amém.
Este é um blog pessoal que pretende provocar reflexão para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Volto ao motivo desta carta, intentarei ser breve, claro e o mais objetivo possível. Em primeiro lugar, umas quantas constatações (a lista não é exaustiva):
1. A prática religiosa diminui constantemente. As igrejas são frequentadas por pessoas cada vez mais idosas que vão desaparecer num prazo bastante curto.
2. Os seminários e os noviciados esvaziam-se de dia para dia e as vocações desaparecem a um ritmo assustador. O futuro apresenta-se sombrio e não vemos quem virá atrás de nós para melhorar a situação.
3. Muitos padres deixam o exercício sacerdotal e o pequeno número dos que vão ficando, cuja idade frequentemente ultrapassa a da reforma, são obrigados a assumir o encargo de várias paróquias, fazendo-o de uma maneira apressada
e administrativa.
4. A linguagem da Igreja é anacrônica, aborrecedora, repetitiva, moralizadora e completamente inadaptada à nossa época. Não pretendo afirmar que se deve dizer sim a tudo nem adotar uma atitude demagoga, pois a mensagem do Evangelho deve apresentar-se com toda a sua exigência e significado. O importante é começar a “nova evangelização” de que falava João Paulo II. E, ao contrário do que muitos pensam, ela não consiste na repetição de tudo o que é antigo e que não interessa a quase ninguém, mas na invenção duma nova maneira de proclamar a fé aos homens do nosso tempo.
5. Para o conseguir, é urgente uma renovação profunda da teologia e da catequese que devem ser completamente repensadas e reformuladas. Infelizmente, temos de constatar que a nossa fé é demasiado cerebral, abstrata, dogmática e que fala bem pouco ao coração e ao corpo.
6. A consequência é que uma grande parte dos cristãos foram bater à porta das religiões asiáticas, das seitas, da “new age”, do espiritismo, das igrejas evangélicas ou de outras parecidas. Ficamos admirados? Eles buscam noutro lado o alimento que não encontram entre nós, pois têm a impressão que em vez de pão lhes oferecemos pedras.
7. No que respeita à moral e à ética, as imposições do magistério sobre o casamento, a contracepção, o aborto, a eutanásia, a homossexualidade, o casamento dos padres, os divorciados casados de novo, etc., já não interessam a quase ninguém e provocam nas pessoas cansaço e indiferença.
8. A Igreja católica que, durante séculos, foi a grande educadora na Europa, esquece que esta Europa se tornou adulta e intelectualmente madura, recusando ser tratada como uma criança que ainda não atingiu a idade do uso da razão. As maneiras paternalistas duma Igreja “Mater et Magistra” passaram de moda e são rejeitadas pela nossa época.
9. As nações que outrora foram as mais católicas deram uma reviravolta de 180 graus, caindo no ateísmo, no anticlericalismo, no agnosticismo, na indiferença...
10. O diálogo com as outras igrejas e religiões tem recuado. O progresso constatado durante meio século está atualmente muito comprometido.
Perante tais constatações, a reação da Igreja é dupla:
· Ou considera sem importância a gravidade da situação e se consola constatando certos fervores e conquistas no campo tradicionalista ou nos países pobres ou a caminho de um certo desenvolvimento e progresso.
· Ou invoca a confiança no Senhor que a socorreu em muitas outras crises durante 20 séculos e que vai continuar a ajudá-la também neste momento difícil.
A isso eu respondo:· Para resolver os problemas de hoje e de amanhã, não basta refugiar-se no passado nem apoiar-se em amostras sem fundamento sério.
· A aparente vitalidade da igreja nos continentes em vias de desenvolvimento é falaciosa. Mais cedo ou mais tarde, essas novas Igrejas passarão pelas mesmas crises vividas pelo actual cristianismo europeu.
· A modernidade é incontornável e foi por a Igreja ter esquecido isto que passa hoje por uma tal crise.
· Por que razão continuar uma política como um jogo da cabra-cega? Até quando recusar ver as coisas como elas são? Porque é que havemos de tentar salvar as aparências, uma fachada que hoje não consegue convencer ninguém? Até quando continuar nesta teimosia, nesta crispação de recusar todas as críticas, em vez de ver nelas uma ocasião de se renovar? Até quando iremos adiar uma reforma que se impõe imperativamente e que já tardou demais?
· Repito o que disse no princípio: é pouco o tempo que nos fica. A história não fica à nossa espera, sobretudo numa altura em que o ritmo se acelera e tudo anda tão depressa.
· Qualquer empresa comercial, ao constatar prejuízos ou um mau funcionamento, põe-se imediatamente em questão, convoca peritos, tenta recuperar, mobiliza todas as suas energias para se transformar radicalmente.
· E a Igreja? Quando pensa ela mobilizar todas as suas forças vivas para uma transformação integral? Vai ela continuar dominada pela preguiça, cobardia, medo, orgulho, falta de imaginação e criatividade, por um quietismo culpável, convencida de que Deus tudo vai arranjar e de que a situação atual acabará por ser ultrapassada como já o foram outras situações, talvez piores, no passado?
· O que se pode então fazer: A Igreja precisa de três reformas urgentes:
· Uma reforma da sua teologia e da sua catequese, repensando completamente a fé e reformulando-a de uma maneira coerente e compreensível para a sociedade contemporânea.
· Uma reforma da sua pastoral, abandonando as estruturas herdadas do passado.
· Uma reforma da sua espiritualidade, inventando outra mística e concebendo os sacramentos de outra maneira, para os encarnar na existência atual e adaptar à vida do homem de hoje. A Igreja é formalista demais. Temos a impressão de que a instituição abafa o seu carisma e de que, para ela, o importante é, ao fim de contas, a estabilidade exterior, superficial, aparente. Corremos mesmo o risco de que Jesus, um dia, nos trate “de sepulcros caiados”.
Para terminar, gostaria que houvesse em toda a Igreja um sínodo geral com a participação de todos os cristãos, católicos e não só, para analisar franca e abertamente todos os aspectos de que lhe falei e outros que poderiam ser sugeridos. Esse sínodo (evitemos a palavra concílio) duraria 3 anos e seria concluído por uma assembléia geral que faria um resumo de todos os resultados e elaboraria as conclusões.
Termino, Santo Padre, pedindo-lhe para me perdoar tanta franqueza
e audácia e solicitando a sua bênção paternal.