segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ganhei Coragem!

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente
Tem coragem para aquilo que ele realmente conhece",
Observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo.
Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe
Acerca DA hora em que a coragem chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente.
Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o Nome de Deus
Como fundamento DA ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar:

a democracia é o governo do povo.
Não sei se foi bom negócio;
O fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade.
Basta ver OS programas de TV que o povo prefere.

A Teologia DA Libertação sacralizou o povo
Como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha
Para que o povo, na planície,
Se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso
Que quebrou as tábuas com OS Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto DA mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias.
Amava a prostituição.
Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias
Pulava de perdão a perdão.
Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário
Pelo mercado de escravos.
E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava.
Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa
Numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado.
O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia OS falsos profetas aos verdadeiros,
Porque OS falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces;
A verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola
Com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram OS cristãos
Sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir OS gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para OS leões,
Se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente:
Judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa,
Se alegrando com o cheiro de churrasco e OS gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro
"O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
Observa que OS indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais.
Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo,
A razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente,
são incapazes de fazer mal a uma borboleta,
Se incorporados a um grupo tornam-se capazes
Dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos,
são capazes de pôr fogo num índio adormecido
E de jogar uma bomba no meio DA torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais.
Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,
Segundo a verdade e segundo OS interesses DA coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo
é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens
E não pelo poder DA razão.
Quem decide as eleições e a democracia são OS produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista
Que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam
a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung,
o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular.
O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche,
de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock,
não gosto de música sertaneja,
não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo,
eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos
e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno",
à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça,
é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute:
"Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança!


Recebi este texto pela internet em 30.08, atribuido ao Rubem Alves.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Decepcionados com a Igreja

Ao longo destes anos de ministério, tenho combatido alguns ensinos que, à luz da Bíblia e da tradição, julgo serem extremamente danosos à igreja e as pessoas que a formam.

Entretanto, causa-me perplexidade constatar que boa parte das pessoas gosta de certo discurso religioso, opressor e legalista, pois não sabendo lidar com a liberdade, para a qual Cristo nos chama, muita gente se submete aos fardos impostos por pregadores inescrupulosos, cujo objetivo é se alimentar das "gorduras das ovelhas" e fazer crescer seu próprio reino sob um falso discurso espiritual e evangelístico.

Por outro lado, na trincheira da ortodoxia temos ouvido discursos, textos e produções literárias bonitas e em harmonia teológica com o que de melhor recebemos ao longo da história da igreja, mas cujos autores pouco apresentam em termos de caráter e prática verdadeiramente cristãs.

Diante deste quadro, já não são poucos os que tem desanimado de nossas igrejas e que resistem a uma vida comunitária, embora isso seja um pressuposto básico da fé cristã.

Explorados de um lado e frustrados por outro muita gente boa tem saído de nossas igrejas para não mais retornar. Tornam-se secularizadas e, ainda que conservem sua fé em Deus, perderam sua fé na igreja, pois da instituição que deveria "transformar o mundo" se percebe as mesmas mazelas e qualidades que também achamos fora dela... sem o legalismo que nos é próprio.

Com os olhos no retrovisor da história (embora o Serra não goste disso) sabemos que estamos indo para o mesmo caminho da igreja de outros tempos e lugares e que a irrelevância de nossa presença, desembocará, inevitavelmente, no esvaziamento de nossos lugares de culto e da consequente "museonização" de nossas catedrais.

Certamente a Igreja seguirá se reinventando e com os "remanescentes fiéis", dos quais eu mesmo já nem sei se faço parte, perseverará até que o seu Senhor coroe sua fé pela manisfestação de Sua vinda.

Assim cremos!