Este é um blog pessoal que pretende provocar reflexão para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
sábado, 11 de setembro de 2010
Um pronunciamento infeliz...
E uma boa resposta!
Democracia e Intolerância Sob um Breve Ponto de Vista da Teologia Cristã Política
À luz das Teorias do Direito contemporâneo de Jürgen Habermas e de John Rawls , as perspectivas sócio-democráticas dos nossos tempos respondem à pluralidade de valores e, sobretudo, às necessárias garantias dos direitos individuais. Estas teorias democráticas se acenderam devido aos conflitos sangrentos da noite de São Bartolomeu, do conflito religioso na cidade de Münzer, dos massacres aos trabalhadores acontecidos no período da Revolução Industrial, do massacre étnico promovido pelo Nazismo a partir de um princípio de iniqüidade religiosa, moral e étnica: conflitos de ontem, conflitos de hoje. Assim, as Teorias Democráticas do Direito indicam ser necessário que os princípios reguladores das sociedades que pretendem ser democráticas, se balizem pela Declaração dos Direitos Humanos. Ora, a luta ideológica destes pensadores, ao defenderem a Democracia e os Direitos Fundamentais, visa contornar as compreensões particulares e intolerantes de mundo que, entre várias possibilidades, objetiva associar liberdade individual à prática da iniqüidade religiosa.
A luta pela dissolução da democracia e a ressurreição das compreensões particulares de iniqüidade são responsáveis pela morte de evangélicos e católicos no mundo islâmico fundamentalista, é responsável pela morte de torcedores de futebol (palmerenses, flamenguistas, vascaínos, hooligans e muitos outros), foi responsável pelas mortes históricas de negros e índios cometidas inclusive por evangélicos batistas e presbiterianos nos EUA, pela vergonhosa perseguição e preconceito aos bolivianos no subúrbio de São Paulo, pelo preconceito aos nordestinos e pela perseguição fatal ao cristianismo e ao seu fundador nos anos aproximadamente que vão do 34 ao 40 de nossa era cristã. Em épocas de profundas crises sociais, o ufanismo inrefletido procura culpar a diversidade cultural pelos problemas que lhe sejam atuais: o governo republicano de Bush não revelou ao seu país que o próprio governo americano (nas gestões executivas dos republicanos) tinha militarizado o Iraque de Saddam Hussein e as milícias de Osama Bin Laden na luta contra o Irã e a antiga União Soviética respectivamente, e, após alguns anos, deu andamento a vários massacres militares pois o julgaram como culpados pela crise sócio-econômica que explodiu nos anos de 2008 e 2009, e porque eram fracos – considerando que os EUA não têm coragem de invadir Cuba, China (a sua maior aliada comercial e cambial) e Irã; a Alemanha nazista queria culpar os judeus, os ciganos, os eslavos, etc., por sua crise sócio-econômica surgida após a primeira guerra mundial; há vários exemplos de como a idéia de iniqüidade surge como medida para excluir o outro para que, assim, se implante um regime político ou religioso purificado da democracia, e sob o terror da justiça apocalíptica de JHWH, Alá, Deus, do Estado Comunista (que é completamente diferente das políticas que se auto-diferenciam destas quando se apresentam como socialistas) e, por mais absurdo que possa parecer a todos, de Jesus Cristo . Assim, as discussões sobre a Democracia Deliberativa e sobre os Direitos Universais da Mulher e do Homem, não podem ser vistas sob a ótica da iniqüidade religiosa; Immanuel Kant ensina que a convivência política só caminha sob a perspectiva da liberdade e da garantia da individualidade recíproca. Soberanamente, Jesus nos ensina que o outro, mesmo que este seja o Samaritano iníquo (sob o ponto de vista da TORAH farisaica), não deve ser portador de um julgamento moral ou de retaliação social, mas de amor, de amor integral.
No mundo encontrado por Jesus havia absolutizações que escravizavam o homem: absolutização da religião, da tradição e da lei. A religião não era mais a forma como o homem exprimia sua abertura para Deus, mas se substantivara num mundo em si de ritos e sacrifícios. Liga-se à tradição profética (Mc. 7,6-8) e diz que mais importante que o culto é o amor, a justiça e a misericórdia .
Indo de colisão aos ensinos de Cristo presentes nos quatros Evangélicos, o Pr. Pachoal Piragine ressuscitou o conceito de iniqüidade etnocêntrica usando inteligentemente um mecanismo de manobra ideológica entre palavras e vídeos: vídeo não explica, seduz e co-move; púlpito é espaço de homilia e não de política (ação que exige argumentação e debate público entre opositores). Por este mecanismo de irreflexão e empunhando um ufanismo auto-destrutivo, o pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba desferiu a ação curralesca de dirigir os votos de uma Igreja num pleito que se pretende democrático: “não votem ...!”, em nome de uma religião purificada da iniqüidade. Contudo, mutatis mutandis, se o Pastor Piragini levar às últimas conseqüências a sua ética da luta veemente contra a iniqüidade e, por isso, começar a ver per se que os seus aliados, alguns bispos da CNBB (ou mais especificamente da Canção Nova?) e outros, não cristãos, que ele diz estarem afins a esta luta, não se adequam ao seu conceito de iniqüidade? Ele os trairá pedindo para que a Constituição do Brasil suspenda o direito do catolicismo, do espiritismo, do luteranismo, do presbiterianismo, do pentecostalismo, das religiões indígenas, do ateísmo, dos batistas arminianos, dos batistas calvinistas, dos batistras tradicionais, dos outros batistas que não sejam da Primeira Igreja Batista de Curitiba, dos batistas que não sejam ele mesmo? Deste modo, pode-se ver que a iniqüidade parece ser mais uma idéia subjetiva que o respeito e o amor ao próximo; quando a idéia da iniqüidade tem mais peso em vídeos programados para iludirem, que nas palavras de Jesus, então o conceito de iniqüidade deixa de ser divino para ser malévolo.
A iniqüidade não pode estar atrelada ao conceito de pureza étnica ou religiosa. Há profundas diferenças entre os conceitos de iniqüidade desenvolvidos em passagens do primeiro testamento cristão e aqueles desenvolvidos no segundo testamento cristão. A luta da Igreja de Cristo é por antecipar o Reino de Deus, gozando o eu paráclito e exercendo a transparência de Cristo. A Missão Integral da Igreja de Cristo não deve promover uma batalha da integridade moral burguesa e excludente, mas da integridade humana daqueles que precisam ser filhos de Deus. Se for assim, um pleito democrático sobre a integridade não pode nascer daqueles que sentam em dízimos e constituem abastardas propriedades, mas de todos que queiram lutar por dignidade e que precisam de Deus. A Missão Integral não é uma experiência teológica onde se discute crescimento estratégico de Igreja, pois não é uma teologia da propaganda concorrencial de marketing mercadológico . Antes, a Missão Integral da Igreja é a reflexão de nossa Missão em Cristo que não condena e, por isso, não pede a crucificação ou o banimento constitucional do diferente, do outro. Todas as vezes que a Igreja retroagir à democracia em nome de uma iniqüidade humana, ela pedirá a crucificação de Cristo, tal como os fariseus o fizeram. Cristianismo não é estratégia nem para crescimento de Igreja e nem para falsidade político-ideológica. Com John Stott , vejo a Missão Integral da Igreja Cristã como uma experiência de repensar a atitude de relação social da igreja com seu tempo, associando-se radicalmente ao Deus encarnado (Cristo Jesus) que nos abre o véu da ignorância e nos chama a dialogar e a cuidar de todos: bons e ruins, ricos e pobres, fortes e fracos.
Existe uma segunda razão por que as pessoas desenvolveram uma versão pela idéia de conversão. Diz respeito à impressão de imperialismo arrogante que alguns evangelistas às vezes dão . O que nos é proibido é toda retórica tendenciosa, toda manipulação deliberadade resultados, toda artificialidade, hipocrisia e representação, toda atitude de colocar-se em frente a um espelho com o objetivo de, conscientemente, planejar nossos gestos e caretas, toda autopropaganda e autoconfiança. De maneira mais positiva, devemos ser nós mesmos, ser naturais, desenvolver e exercitar os dons que Deus nos deu e, ao mesmo tempo, depositar nossa confiança não em nós mesmos, mas no Espírito, que concorda em operar por meio de nós .
Com Jürgen Moltmann, visualizo um imperativo à Igreja de Cristo de vivência pela integridade humana, onde esta comunidade humana de Cristo surja no mundo como antecipação do Reino de Deus . A luta pelo novo que vem de Deus é viver, sobretudo, uma fé pascoal (mas não Paschoal) em Cristo – Ele mesmo, filho de Deus, que foi preterido por uma população extasiada (talvez expressando sua opinião por meios de palmas efusivas) que gritou e apoiou veementemente pela libertação de Barrabás.
Considerações Finais É difícil pedir para que a Igreja de Cristo jogue pedra caluniosa em nome de uma hipotética iniqüidade. Nem a mulher adúltera, Estevão, os ladrões, os assassinos, eu mesmo (o escritor), os homosexuais, os pobres, as crianças que morrem nos lixões de Curitiba (por causa do modelo monetário capitalista – a moeda que tem o rosto de César – que é a mesma que constrói grandes Igrejas Evangélicas), nem mesmo as crianças indígenas que morrem por problemas culturais, por doenças trazidas pelos comerciantes, por ladrões, por missionários bons e maus, etc., devem ser objeto de julgamentos, mas de cuidado e amor. Quem deve ter direito a justiça? Quem deve ter direito à igualdade? É tempo da Igreja de Cristo no Brasil descobrir que ela não vive mais em sociedades absolutistas. Se isso for verdade, o regime democrático que rege constitucionalmente o nosso país pede para que todos exerçam sua cidadania, conheçam a Constituição Federal e participem dos fóruns públicos visando a uma melhor regulamentação do direito público e do privado, sempre à luz da Declaração dos Direitos Humanos. Se alguém satanizar os Direitos Humanos, esse estará satanizando a garantia da liberdade religiosa dos batistas, presbiterianos, católicos, espíritas, negros, índios, brancos, pardos, etc. Sem o direito do outro, não há o meu direito; sem o meu direito, não há o direito do outro. Se Deus não amar e cuidar do outro, por que ele haveria de amar e cuidar de mim? Se Deus cuida e ama a mim, por que ele não haveria de amar e cuidar de outros além de mim mesmo?
Bibliografia
1. BOFF, Leonardo. Paixão de Cristo, paixão de mundo: os fatos, as interpretações e o significado ontem e hoje. Petrópolis: Vozes, 2007, pp. 28-29. 2. CRÜSEMANN, Frank. “A Torah no pentateuco: desafio e qustionamento” in: A Torá. Teologia e história social da lei do Antigo Testamento. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 11-34. 3. CHRISTIN, Olivier. La paix de religion. L´autonomisation de La raison politique au XVI siècle. Paris: Seuil, 1997. 4. DOUGLAS, M. “A impureza ritual” in: Pureza e perigo. Lisboa: Edições 70, (s/d). 5. FERRY, Luc. Filosofia Política. El derecho: la nueva querella de los antiguos y los modernos. México: Fondo de cultura económica, 1991. 6. GRAY, John. Missa negra. Religião apocalíptica e o fim das utopias. . Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2008. 7. HABERMAS, Jürgen. “O direito como categoria da mediação social entre facticidade e validade” in: Direito e Democracia. Entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. 8. MOLTMANN, Jürgen. Vida, esperança e justiça. Um testamento teológico para a América Latina. São Bernardo Campo: Editeo, 2008. 9. _________________. Teologia da Esperança. Estudos sobre os fundamentos e as conseqüências de uma escatologia cristã. São Paulo: Loyola, Teológia, 2005. 10. MOXNES, Halvor. “Regras de pureza e ordem social” in: A economia do Reino: conflito relações econômicas no Evangelho de Lucas. São Paulo: Paulus, 1995. 11. PIRAGINE, P. Crescimento integral da Igreja. Um crescimento em múltiplas direções. São Paulo: Vida, 2006. 12. RAWLS, John. O direito dos povos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 13. ____________. A Theory of Justice. Oxford: Oxford University Press, 1971 14. ____________. Political Liberalism. New York: Columbia University Press. 1993. 15. ____________. História da filosofia moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 16. STOTT, John. A missão integral da Igreja no mundo moderno. Viçosa: Ultimato, 2010.
Manoel Ribeiro de Moraes Junior, Doutor em Ciências da Religião (UMESP), Mestre em Ética e Filosofia Política (UERJ), Graduado em Filosofia (UERJ) e em Teologia (STBSB), o autor é Diretor Acadêmico do Seminário Teológico Batista Equatorial/FATEBE e Professor Adjunto de Filosofia na Universidade do Estado do Pará (UEPA)
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