quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma parábola sobre as igrejas.

Numa perigosa costa, onde naufrágios são frequentes, havia, certa vez, um tosco, pequeno posto de salvamento. O prédio não passava de uma cabana, e havia um só barco salva-vidas. Mesmo assim, os membros, poucos e dedicados, mantinham uma vigilância constante sobre o mar e, sem pensar em si mesmos, saíam dia e noite, procurando incansavelmente pelos perdidos. Muitas vidas foram salvas por esse maravilhoso pequeno posto, de modo que acabou ficando famoso. Algumas das pessoas que haviam sido salvas, além de várias outras residentes nos arredores, queriam associar-se ao posto e contribuir com seu tempo, dinheiro e esforço para manter o trabalho de salvamento. Novos barcos foram comprados e novas tripulações treinadas. O pequeno posto de salvamento cresceu.

Alguns membros do posto de salvamento estavam descontentes com o fato de o prédio ser tão tosco e tão parcamente equipado. Achavam que um lugar mais confortável deveria servir de primeiro refúgio aos náufragos salvos. Assim, substituíram as macas por camas e puseram uma mobília melhor no prédio, que foi aumentado. Agora, o posto de salvamento tornou-se um popular lugar de reunião para seus membros. Deram-lhe uma bela decoração e o mobiliaram com requinte, pois o usavam como uma espécie de clube. Agora, era menor o número de membros ainda interessados em sair ao mar em missões de salvamento. Assim, tripulações de barcos salva-vidas foram contratadas para fazer esse trabalho. O motivo predominante da decoração do clube ainda era o salvamento de vidas, e havia um barco salva-vidas litúrgico na sala em que eram celebradas as cerimônias de admissão ao clube. Por essa época, um grande navio naufragou ao largo da costa, e as tripulações contratadas trouxeram barcadas de pessoas com frio, molhadas e semi-afogadas. Elas estavam sujas e doentes, e algumas delas eram de pele preta ou amarela. O belo e novo clube estava um caos. Por isso, o comitê responsável pela propriedade imediatamente mandou construir um banheiro do lado de fora do clube, onde as vítimas de náufragos pudessem se limpar antes de entrar.

Na reunião seguinte, houve uma cisão entre os membros do clube. A maioria dos membros queria suspender as atividades de salvamento por serem desagradáveis e atrapalharem a vida social normal do clube. Alguns membros insistiram em que o salvamento de vidas era seu propósito primário e chamaram a atenção para o fato de que eles ainda eram chamados de “posto de salvamento”. Mas por fim estes membros foram derrotados na votação. Foi-lhes dito que, se queriam salvar as vidas de todos os vários tipos de pessoas que naufragassem naquelas águas, eles poderiam iniciar seu próprio posto de salvamento mais abaixo naquela mesma costa. E foi o que fizeram.

Com o passar dos anos, o novo posto de salvamento passou pelas mesmas transformações ocorridas no antigo. Acabou tornando-se um clube, e mais um posto de salvamento foi fundado. A história continuou a repetir-se, de modo que, quando se visita aquela costa hoje em dia, encontram-se vários clubes exclusivos ao longo da praia. Naufrágios são frequentes naquelas águas, mas a maioria das pessoas morre afogada!

Originalmente, essa parábola apareceu num artigo de Theodore O. Wedel, “Evangelism – The Mission of the Church to Those Outside Her Life” (Evangelismo – a missão da igreja para os que são de fora), em The Ecumenical Review, out. 1953, p. 24.

Esta é uma paráfrase do original, feita por Richard Wheatcroft, em Letter to the Laymen (Carta aos leigos), maio-jun. 1962, p.1.

Citado por Howard J. Clinebell, em Aconselhamento Pastoral – modelo centrado em libertação e crescimento, 1987, pp. 13-14.

2 comentários:

  1. Bela parábola ! Verdadeira porém muito triste. E não se aplica apenas às igrejas. Sua aplicação pode ser extensiva a tudo aquilo que iniciamos em nossas vidas e cujo propósito esquecemos no decorrer delas.

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  2. Que parábola tocante!
    Quando esquecemos de vislumbrar o propósito inicial deixamos que nossas pequenas cabanas se tornem em grandes clubes.

    Abraços.

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