Para alguns, tais eventos são prova cabal da absoluta soberania do "acaso" e da falta de sentido da história humana. Assim, nossa existência se revela uma piada sem graça, com disse Albert Camus. Para outros, Deus "encontra" oportunidade para se revelar mesmo nestas catástrofes naturais que geram tanta dor e sofrimento. Retorna, portanto, a velha tensão entre "como falar de Deus após o terremoto no Haiti?", contra o "como não falar de Deus após o terremoto?"
Tais acontecimentos, não há dúvidas, são terríveis e nos abalam a todos. Por outro lado, creio que podemos tirar lições de grande importância destes eventos que, se aprendermos, poderíam diminuir até mesmo o impacto destes fenômenos naturais sobre os povos por eles atingidos.
A primeira lição é que devemos desenvolver uma consciência planetária, ou seja, de que estamos intrinsecamente unidos e que a nossa felicidade pessoal depende, em muito, da felicidade dos outros. Isso se aplica a indivíduos e também a povos e nações.
A segunda é que temos que ser solidários em todo o tempo. Fico a pensar se somente tais eventos nos farão sensíveis à dor e sofrimentos dos outros. O Haiti conhece tragédias há muitos anos, juntamente com outros povos da América Latina, da África e Ásia, mas são esquecidos pelos países ricos durante décadas. Somente desastres desta magnitude parece despertar a atenção do mundo, mas não deveria ser assim. Aliás, geralmente a população destes países é muito indesejável quando, em busca de melhores condições de vida, resolvem cruzar oceanos em busca de trabalho e comida nos países ricos, especialmente os europeus.
A terceira lição é que devemos parar de colocar a culpa em Deus. Temos que ter a humildade para reconhecermos nossos erros (citados acima) e assumirmos, definitivamente, a responsabilidade na construção de nossa história, pois se Deus existe (e eu creio nisso) Ele nos outorgou a responsabilidade por nossos atos e pela construção de nossa história. Entretanto, se não lutarmos para acabarmos com as injustiças sociais que existem no mundo, se nossos valores não forem repensados, se continuarmos priorizando sobre todas as coisas o lucro, a competição, o mercado, acima até mesmo do próprio ser humano, continuaremos caminhando para a nossa destruição. Se não formos destruídos pelas consequências de nossas agressões aos meio ambiente, nos autodestruiremos pelas guerras e por sublevações da massa faminta e miserável que colocarão os governos democráticos em situação de grande perigo.
Portanto, é sempre mais fácil cairmos nessa discussão inútil da existência de Deus e o responsabilizarmos por nossas desgraças, o que na verdade é uma grande incoerência, já que geralmente os ateus acusam os religiosos de adorarem a um Deus que nada mais é que a projeção do pai. Estes revelam não somente uma contradição em seus argumentos, mas até mesmo uma concepção infantil da divindade. Tropeçam naquilo que condenam. Eles negam a Deus porque queriam um Deus-paizão na verdade. Freud explica!
A hora é para nos unirmos e fazermos grande esforço para não esquecermos destes eventos quando as coisas "voltarem ao normal", quando os canais de televisão deixarem de abordar este tema. Não é hora de discussões inúteis, mas de uma atitude madura de, definitivamente, buscarmos construimos a paz no mundo que só poderá ser real qundo as injustiças sociais forem reparadas. Nós podemos fazer isso. Isso não é responsabilidade de Deus!