terça-feira, 6 de outubro de 2009

Evento é vento


Ao longo do tempo confundiu-se o dom pastoral com a função da gestão eclesiástica e muitos pastores acabam tendo de investir tempo nisso, pouco sobrando para o cuidado das vidas.

Há poucos dias um aluno comentou que sua igreja era movida a eventos e que falou com seu pastor que evento é como vento, vem e some. Isso me acendeu uma forte preocupação e acabou dando título a este artigo.

Ao longo destas mais de três décadas de ministério tenho percebido que muitas igrejas acabam mesmo sendo movidas por eventos. Aliás, até que não é difícil gerenciar (não seria pastorear) uma igreja assim, dou a dica para você: basta fazer uma reunião antes de findar o ano com todos os líderes da igreja, elaborar um calendário repleto de atividades semana após semana. A você caberá cobrar antecipadamente ao responsável que tome providências para que a atividade programada seja cumprida. Seja rigoroso. Tire fotos, faça relatórios, coloque tudo no site da igreja e mostre que o “circo” está em movimento. Se alguém ficar doente no meio do caminho é só falar que a pessoa tem de dar um jeito e se sacrificar para o “reino” pois o show não pode parar.

Um dado curioso é que, em geral, as denominações históricas no Brasil foram organizadas por missionários norte-americanos. Vamos lembrar que uma das ideologias impulsoras da cultura norte-americana é o pragmatismo, que focaliza a ação, a utilidade. Creio que temos aqui as raízes históricas que podem ter nos induzido a reduzir o Cristianismo a atividades eclesiásticas, de modo que ser cristão significa simples e meramente trabalhar na igreja. Isso pode ter passado para as outras denominações que surgiram ao longo da história da igreja no Brasil.

Nesse sentido o pastor da igreja passa a ser gerente de calendário em vez de pastorear, cuidar do rebanho. O afeto, tão caro ao espírito do pastoreio, é substituído pelo poder, pelo comando, de modo que quando o pastor está chegando perto de alguém logo se pode pensar “Lá vem sermão (sinônimo para bronca”)!

Será preciso recuperar o lado relacional, convivencial, terapêutico, piedoso e amigo do pastoreio. Infelizmente ao longo do tempo confundiu-se o dom pastoral com a função da gestão eclesiástica e muitos pastores acabam tendo de investir tempo nisso, pouco sobrando para o cuidado das vidas e não apenas da utilidade de cada ovelha para o trabalho eclesiástico.

Igreja é muito mais do que evento, é uma comunidade terapêutica, provedora de acolhimento, de comunhão, compartilhamento, de socorro, de serviço, de testemunho, de aprendizagem, de disciplina também. É um ambiente fértil para o desenvolvimento da vida em adoração e glorificação a Deus. O resto é vento.

Lourenço Stelio Rega
é teologo, educador e escritor.

Fonte: ECLESIA/http://pastorchicco.wordpress.com/2009/08/22/evento-e-vento/

Um comentário:

  1. Temos acompanhado em muitas igrejas a tendência dos eventos no sentido de "atrair" os jovens ou outras categorias, pois há diversos tipos de eventos, mas o que mais tem chamado a atenção é aquele onde os jovens se soltam de tal maneira que não conseguimos distinguir se o evento tem propósito voltado para o Reino de Deus ou para satisfazer o ego de muitos. Numa ciranda dessa de eventos, tens razão Pr. Lourenço, um pastor não conseguirá pastorear. Eu conheço pastor de ovelhas, mas se já existe por aí pastor de "eventos" por favor apresentem-me o mesmo, pois para mim é uma novidade. Fato é que a maioria dos eventos é para agradar as pessoas e não tenho visto frutos reais de conversão através dos mesmos. Posso estar errado, mas na prática ainda não ví. Há um outro fator relativo aos eventos, que em caso de uma igreja que vive de eventos venha a parar com os eventos, os resultados não serão animadores. Creio que muitos "eventeiros" procurarão outra igreja que tenha os tais eventos. Esses eventos se vão com o tempo, mas há "eventos" e eventos. Tenho visto eventos excelentes onde aprendemos mais de Deus, nossas vidas são renovadas pela Palavra, pelo mover de Deus, a fé se renova se solidifica, etc. Esses infelizmente são pouco assistidos.
    Um abração a todos - Miranda.

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